Guia básico: como escrever um conto.

Dracomics Shonen - Vol.1.
O meu primeiro trabalho publicado por uma editora foi uma história em quadrinhos chamada O Arquipélago dos Espíritos, escrita por mim e desenhada pelo Heitor Amatsu. O meu quadrinho está disponível na antologia Dracomics Shonen, da Editora Draco. Porém, mesmo sendo meu primeiro material impresso, essa não foi a primeira história que me colocou como uma opção de leitura no mercado literário nacional.

Eu comecei com contos. Antes de escrever meu primeiro livro, antes de publicar meu primeiro quadrinho, eu escrevi um conto chamado A Alma Perdida: Muito Além do Oeste.

Esse conto se tornou um dos meus principais trabalhos até hoje, com mais destaque até do que o quadrinho publicado pela Draco. E, a nível pessoal, um dos motivos dessa ser uma das minhas histórias mais relevantes é o fato de o conto representar a conclusão de um objetivo. Antes de pensar na A Alma Perdida eu estava, com o perdão da infâmia repetição, perdido em um livro que não saia do lugar.

É difícil acreditar no próprio trabalho sem obter nenhum resultado durante sua produção.

Mediante essa situação, resolvi fazer uma história curta para ter um projeto ao qual eu pudesse começar e finalizar. O objetivo era melhorar a minha autoestima e me motivar a continuar escrevendo. Foi assim que o conto nasceu e foi assim que tive outra ideia que se tornou o meu primeiro livro escrito e ainda não publicado.

Contei essa história porque considero importante exemplificar que o processo de escrita pode ser conturbado, principalmente se você não sabe o que está fazendo. Eu não sabia exatamente o que estava fazendo, por isso o meu livro não saia do lugar. No entanto, ao me propor uma pequena meta, consegui finalizar uma história e hoje tenho dois livros escritos, cinco contos publicados e um quadrinho com a Draco.

Escrever contos é interessante, principalmente para quem está começando. A importância disso não está apenas relacionada a uma meta ao qual o autor iniciante possa cumprir, mas também é um meio de você ter seu trabalho publicado, seja no Wattpad, na Amazon ou em uma antologia de contos organizada por uma editora. Além disso, também é mais fácil convencer uma pessoa a ler o seu conto ao invés de um livro de trezentas páginas.

Para esse artigo, o termo “conto” será tratado como histórias curtas. Não importa se é um enredo de dez páginas ou uma noveleta de cinquenta. O conto é uma história curta, não um livro, estamos entendidos?

Todavia, em definições mais embasadas segundo artigo publicado pela Editora Hedra, redigito por seu editor, Luis Dolhnikoff, um conto é uma história que contém entre 2.500 e 7.500 palavras. No entanto, nesse artigo também estou levando em consideração os minicontos (flash fiction) de 100 a 2.500 palavras, e as noveletas, que possuem entre 7.500 a 15.000 palavras.

Uma novela, que é um texto que figura entre a noveleta e o romance, possui entre 15.000 e 40.000 palavras. O romance, o “livro comum”, tem aproximadamente entre 41.000 a 100.000. Quando o livro é maior do que isso, o termo utilizado, no inglês, é “Epic novel”, ao qual eu particularmente chamo de CHAPROCA ou CALHAMAÇO. O livro IT – A Coisa, do Stephen King, entra na categoria de calhamaço. Uma epic novel possui entre 101.000 e 200.000 palavras.

E, recapitulando, quando eu estiver falando de contos, estarei me referindo aos minicontos, aos contos em si e também as noveletas. Estamos compreendidos?

Agora, para melhor embasar, esses são os tamanhos aproximados das minhas obras e suas devidas categorias:

A Alma Perdida - Muito Além do Oeste: 13 mil palavras (aproximadamente); noveleta.
Rei e o Monstro Gigante: 5 mil palavras (aproximadamente); conto.
Leito Hospitalar - Sozinho no branco vazio: 5 mil palavras (aproximadamente); conto.
Zumbis em uma nave espacial: 2 mil palavras (aproximadamente); miniconto.
O Bem-Aventurado Sr. Político: 4,5 mil palavras (aproximadamente); conto.

Esse artigo segue o princípio do meu primeiro guia básico, o texto não é um passo a passo, mas um compilado de informações ao qual eu gostaria de ter tido conhecimento no momento ao qual comecei a trabalhar com escrita. Se você não sabe como começar a escrever seus contos ou precisa de informações para se sentir confortável com suas próprias criações, você está no lugar certo.

Se você quiser conhecer o meu trabalho ou ler exemplos de contos após a leitura desse artigo, sinta-se à vontade para clicar em qualquer link relacionado as minhas histórias nesse blog. Ou clique aqui. Estarei colocando os meus contos de graça na Amazon por esse período de tempo: 20/01/2018 a 24/01/2018. Se gostar dos contos, deixe sua nota e comentário. Se não gostar, comenta em particular para ninguém ficar sabendo ;)

Não deixe de acessar os guias anteriores:



Escrever: uma questão de gramática


Antes de estudar estruturas narrativas é necessário saber escrever para se escrever uma história. Um pouco óbvio, não é mesmo? Mas qual deve ser o seu grau de erudição linguística para poder colocar a mão na massa, estalar os dedos e começar a redigir um conto para todos governar? Bem, se você sabe ler e compreender o que está lendo e sabe escrever de forma compreensiva para o seu leitor, você já está apto a contar suas histórias.

Não há necessidade de ter um bacharelado em língua portuguesa para contar histórias de ficção. A gramatica é importante e essencial, mas não é a única coisa que um autor precisa para ser um escritor.

Nessa etapa do processo, para quem está começando, vale o que a Cecilia Dassi, atriz e psicóloga, gosta de dizer: feito é melhor do que perfeito não feito.
Trecho do vídeo: Idealizar e procrastinar - feito ou perfeito?
Evidentemente deve-se ressaltar o fato de que a gramática é fundamental na arte da escrita. Sem isso o indivíduo não terá capacidade para redigir nenhum tipo de texto. Para se jogar futebol é importante saber passar e chutar a bola, dois fundamentos básicos. A gramática é equivalente a esse exemplo.

No entanto, eu não sou uma pessoa especialista em gramática. Esse é o real motivo desse capítulo no artigo. Eu sou incapaz de explanar sobre verbos e orações, sequer sei explicar o que é uma oração subordinada substantiva objetiva indireta. Isso é um fato. Porém, mesmo assim, sou escritor. Estou escrevendo esse artigo. Você está lendo esse artigo. Portanto, mesmo incapaz de compreender as regras gramaticais como um todo, eu sei usar a gramática de forma aceitável, mas não em sua plenitude e perfeição.

Como isso é possível? Isso é possível da mesma forma que um jogador de futebol consegue fazer uma curva em parábola com uma bola sem necessitar ter os conhecimentos da física por de trás do impulso do seu chute em conjunto ao movimento do braço oposto em relação à perna em deslocamento que possibilita o equilíbrio perfeito que garante a precisão e força do seu arremate. Sem vírgulas.

A resposta é essa: prática.

Passei onze anos em duas escolas, entre ensino fundamental e médio. Fui lecionado sobre gramática do primeiro ano do fundamental ao terceiro e último do ensino médio. Tive acesso a toda essa informação teórica, mas nunca fixei a informação. Sempre me foi muito esquisito e eu só conseguia manter esses dados guardadas há tempo das provas, por isso nunca repeti de ano e nunca tive problemas com notas – minhas notas eram boas, não grandiosas, mas boas.

De uma maneira indireta todo esse aprendizado escolar ainda se mantém no meu subconsciente. Entretanto, esse é o meu limite.

O conhecimento teórico gramatical faz falta? Muita! Um pouco mais de noção me ajudaria a compreender melhor o que funciona ou atrapalha os meus textos, saindo da linha do instintivo. Ainda não sei como resolver esse meu problema, mas continuo escrevendo e lendo todos os dias, e cada novo aprendizado melhora a qualidade da minha escrita.

Voltando ao motivo de redigir esse capítulo: se você não é bom em teoria gramatical, procure escrever bastante. Todos os dias. Crie um blog, um Tumblr ou pegue um caderno e escreva só para você. O IMPORTANTE É ESCREVER. Também é importante ler, ler muito. Leia artigos, leia livros, leia quadrinhos, leia legendas. Leia e escreva, escreva e leia.

A prática não substitui a teoria e a teoria não substitui o conhecimento adquirido com a prática. É fundamental compreender que as pessoas absorvem conhecimento de formas diferentes, portanto, não é preciso seguir apenas o modo didático da escola. Encontre o seu próprio meio de aprendizado. É isso que importa: aprender.

Resumindo para finalizar: a gramática é essencial, mas ficar preso a teoria não vai lhe ajudar a contar histórias de ficção. Se a escola não lhe ensina ou não lhe ensinou de uma forma compreensiva, encontre o seu próprio caminho para aprender a escrever suas prosas. O meu foi criar um blog e escrever de tudo, de notícias a críticas de filmes, de contos publicados a outras histórias de ficção que jamais verão a luz do dia.

Sei que a falta de conhecimento teórico deixa qualquer pessoa insegura para julgamentos, mas você não deve se preocupar com isso: você será julgado de qualquer forma, independentemente da sua escrita ser boa ou ruim.

Essa é minha dica gramatical: aprenda, mas não é preciso virar professor.

A questão gramatical será pautada novamente no decorrer desse texto.

Desmitificando o mercado das ideias


Você teve uma ideia brilhante. Por que você teve essa ideia brilhante? Porque você é fodão!

Você é o cara!

Porém, há um empecilho: outra pessoa teve a mesma ideia brilhante que você! =O

Imagine que dentro de um grupo de UM MILHÃO de pessoas, só duas são incríveis o suficiente para ter essa ideia brilhante. Isso significa que você tem um concorrente em um milhão. Pensando assim, é melhor do que a mega-sena, não é?

No entanto, a vida é uma dominatrix que machuca o seu bumbum com areia e sal. Nesse momento você percebe que duas pessoas tiveram a mesma ideia dentro de um milhão de indivíduos. Você mora na cidade de São Paulo, cidade com doze milhões de habitantes. Ou seja, além do concorrente do seu milhão, ainda há mais vinte e duas pessoas com a mesma ideia brilhante.
Pois é, o estado de São Paulo tem mais de quarenta milhões de habitantes. O Brasil tem mais de duzentos milhões de cidadãos. O mundo tem sete bilhões dessa praga de ser humano.

Migo ou miga, sua ideia brilhante não é brilhante.
Não sei qual é o anime, não pergunte.
Muito se valoriza a grande ideia que será a força motriz da sua história, mas é importante encarar a realidade de que isso não existe. Um bom pensamento pode motivar você a contar uma boa história, mas uma boa história não é formada apenas por uma ideia.

Pense que o mercado das ideias está aberto para todos que estão dispostos a transitar por suas imediações. Às vezes você vai determinado para comprar um produto X, às vezes você esbarra sem querer com o produto Y e de vez em quando é até possível descobrir um produto Z em uma ala secreta do mercado. O mercado das ideias é seu para caminhar da mesma forma que é exatamente isso para todos os outros artistas que ali passam. Duas pessoas podem comprar o mesmo produto e ninguém é especial por causa disso.

Todavia, por que isso acontece? A resposta não é complicada: necessidades semelhantes geram resultados semelhantes. A experiência da vida humana é bem limitada, então é bem comum que pessoas, morando em lugares diferentes, tenham exatamente o mesmo tipo de raciocínio.

Um dia alguém pensou que seria mais fácil caçar mantendo distância da sua presa, pois usar pedras e espetos era muito arriscado. Nesse momento surgiu a necessidade de atacar a distância. Alguém inventou ou improvisou uma lança. Outros passaram a arremessar essa lança para garantir mais segurança. Outros dentre outros perceberam que seria mais prático e preciso arremessar um objeto menor usando uma ferramenta, então nasceu o arco e flecha.

Todas as nações do mundo passaram por esse processo, mas muitas delas não se encontraram para trocar informações, apenas conviveram com a mesma necessidade.

O escritor funciona da mesma forma. Você terá ideias e conclusões que muitas pessoas já tiveram ou vão vir a ter, então não se preocupe com a necessidade de ter ideais para suas histórias. Elas aparecem naturalmente ou você pode aprender a se portar para “forçar” o surgimento de ideias bacanas. O diferencial está na maneira em que você vai trabalhar esse conceito. Uma ideia solitária não tem valor quando não trabalhada.

O mercado das ideias está aberto para todos, não fique se apegando a um conceito mirabolante, pois provavelmente outra pessoa já o teve. E, é claro, se você quer aprender a usar suas ideias ao seu favor, leia o capítulo seguinte.

Desenvolvendo sua ideia e enredo


Uma história é composta por muitas ideias que juntas se transformam em conceitos e enredo. É aqui que se encontra o seu valor, no trabalho como um todo. Entretanto, antes de discutirmos enredo e tramas para suas histórias, vamos começar pelo básico, afinal de contas, esse é o guia básico de como escrever um conto.

As suas ideias e as ideias de qualquer tipo de artista nascem do nada ou de um esforço específico voltado para a criação. A primeira opção é natural, não é preciso ser explicada em detalhes. Você está tomando banho, pensa em uma coisa que leva a outra e magicamente uma ideia surge na sua cabeça. O nosso foco agora deve ser em trabalhar sua mente para que sua cabeça esteja apta a ter ideias com maior naturalidade e frequência.

Para ter ideias você deve estar absorvendo informações constantemente. É preciso viver. Se você é uma pessoa aventureira, saia de casa, pegue um ônibus ou um avião, conheça outras pessoas e vá viver sua vida sempre colhendo informações, aprendendo sobre os lugares por onde passa e ouvindo o que os outros têm a dizer. É o famoso clichê de ouvir conversas paralelas de estranhos na rua. Eu não levo esse estilo de vida, estou apenas relatando uma possibilidade, pois a pessoa que disse que “a vida imita a arte” foi bastante infeliz e estupida.

Não há arte sem vida. Ponto final. Pessoas podem se inspirar na arte, mas a arte só existe se o artista souber observar o mundo ao seu redor. É impossível imaginar algo que você não sabe que existe, todas as criações são baseadas na experiência de vida dos artistas, de maneira subconsciente ou direta.

Rei e o Monstro Gigante.
Em Rei e o Monstro Gigante, meu segundo conto publicado na Amazon, eu estava com duas piadinhas, questionamentos cômicos, na cabeça há alguns dias: você já percebeu como os monstros gigantes estão sempre destruindo o Japão? Isso seria uma rixa pessoal com o povo nipônico? Outra coisa: já percebeu como a Austrália está cheia de criaturas monstruosas? Arranhas gigantes, crocodilos que parecem filhotes do Gojira e afins. Isso sem falar nos Cangurus que já chegam no boxe nas pessoas.

Por que eu estava com essas ideias na cabeça? Porque a Editora Draco estava fazendo uma coleção de monstros gigantes e eu queria tentar participar. Não consegui entrar para a antologia, o texto estava ruim e a história não combinava muito com a temática adotada para a coletânea. Porém, como eu queria participar da coletânea, comecei a pensar na situação dos monstros gigantes no Japão e acabei fazendo essa associação: os monstros que destroem o Japão são todos da Austrália, porque lá está cheio de criaturas fantásticas.

Dessa forma nasceu Rei e o Monstro Gigante: a história de uma menina japonesa que lutará contra um monstro gigante australiano. O enredo não tem absolutamente nada de cômico. O enredo também não possui o aspecto tradicional de terror que fez Gojira emergir em 1958. Mas foi assim que a história nasceu e se tornou um drama infantojuvenil fantástico.

Seguindo nas formas de obter ideias, procure consumir histórias como um todo. Leia livros, quadrinhos, veja filmes, séries e afins. É por isso que faço uma lista anual na minha retrospectiva sobre tudo que consumi no ano. Cada nova história consumida me oferece mais embasamento para minhas próprias criações, não apenas como fonte de ideias, mas também como referências criativas.

No exemplo de duas ideias em um milhão, podemos mensurar que 14 mil pessoas no mundo são capazes de ter a mesma ideia. O que diferencia essas pessoas umas das outras? Resposta: sua individualidade e trabalho. Cada ser é único, por mais que suas ideias e pensamentos possam ser semelhantes, cada qual tem sua própria forma de ver o mundo. Somando isso a capacidade de pesquisar para se informar e trabalhar, é plenamente possível que essas 14 mil pessoas, 14 mil indivíduos com a mesma ideia, desenvolvam 14 mil projetos diferentes ou até mesmo semelhantes, mas cada qual com seu próprio charme.

Imagine um vampiro se apaixonando por um ser humano, um humano se apaixonando ou, para simplificar, uma história de amor entre humano e vampiro. Bastante clichê, não é mesmo? Todavia, em qual história você está pensando nesse momento? Crepúsculo? Drácula? Diários de um Vampiro? True Blood? Vampire Knight? Carmilla?

Todas essas histórias têm no mínimo uma ideia repetida, mas todas são distintas por serem de autores diferentes. A salva exceção é Carmilla e Drácula, pois o conto da Carmilla é uma das inspirações para o livro do Bram Stoker. Mas, mesmo servindo de inspiração, as duas histórias são diferentes entre si.

Outro método para ter ideias é através da pesquisa. Pesquise sobre assuntos do seu interessante, leia notícias e, novamente, mantenha se informado. As ideias vão aparecer no meio desse processo.

Vou propor um exercício básico de pensamento criativo: escolha uma temática e faça questionamentos em torno dessa temática.

O tema não precisa ser um gênero em específico, podendo ser um aspecto ou característica. O nosso objetivo, aqui e agora, é contar uma história envolvendo gelo. Nós gostamos de gelo e queremos trabalhar com esse elemento.

O que o gelo tem de bacana? Há personagens com poderes de gelo; há cenários desafiadores onde há neve intensa; há pessoas que trabalham diretamente com gelo, seja fabricando gelo ou vivendo no gelo, como um alpinista ou um patinador. Há muitas coisas ao qual o elemento gelo faz parte. Eu escolho pessoas que fabricam gelo. Essa pessoa é uma garota brasileira que nunca viu neve, então ela, na escola, começa a estudar maneiras de fabricar neve artificial, seja com papel picado, métodos científicos ou cinematográficos.

Vamos adicionar um pouco mais de questionamentos: por que a nossa protagonista quer tanto fazer neve? Ela vive no Brasil e vê neve em filmes e gostaria de vivenciar essa sensação do natal americano? Ela gostaria de realizar o sonho de uma amiga que também gosta bastante de neve? Ou ela só quer ser diferente dos demais? Quebrando um pouco a cabeça, pensando nas possibilidades, você conseguirá desenvolver todo um enredo para sua personagem.

A garota que fazia nevar: Júlia é uma garota pobre do sertão pernambucano fascinada por filmes de natal hollywoodianos. Ao ver sua melhor amiga sofrer com problemas familiares e na escola, ela decide fabricar neve para poder transpassar essa sensação de conforto e cumplicidade que os filmes natalinos americanos passam para os seus telespectadores.

Prontinho. Temos um título, uma boa ideia e um enredo proposto nessa sinopse. Eu posso escrever um conto, um livro, fazer um quadrinho ou um filme com isso. Se eu desejar levar essa ideia adiante, ideia ao qual pensei em menos de dez minutos, eu só necessito começar a pesquisar sobre os elementos intrínsecos nessa história: como é viver no sertão de Pernambuco; como se fabrica neve artificialmente; qual é o estado psicológico de uma criança ou adolescente que sofre com esses tipos de problemas e assim por diante.

É desse modo que você tem uma ideia e desenvolve um enredo - lembrando que esse é apenas o método que utilizo para trabalhar minhas histórias como um todo.

Só de curiosidade: fiz uma pesquisa rápida pelo título que escolhi para o exemplo e descobri que existe um livro chamado “A menina que fazia nevar”. Títulos como esse, a menina ou menino que fazia isso ou aquilo, são bem comuns e chamativos no mercado literário, por isso são muito usados. Vou manter o título clichê no exemplo, mas se eu fosse realmente escrever essa história agora, eu procuraria pensar em outro título para não haver confusão (retornarei a esse assunto em outro momento).

Escrita é técnica, não pura inspiração.

Qualquer pessoa pode escrever a história de alguém que fabrica neve, mas o meu enredo, o meu projeto, acaba sendo único nesse sentido por ter sido pensando por mim. Nesse caso, é bom alertar que se outra pessoa desenvolver exatamente esse mesmo projeto que acabei de explanar, isso constará como plágio. Não há plágio de ideias, mas de projetos.

Não vou discutir direitos autorais, outras pessoas já o fizeram bem e você sempre tem a possibilidade de ler a lei de diretos autorais brasileira para poder ficar por dentro do assunto (:

Criando a estrutura do seu conto


Como acabei de mencionar no capítulo anterior, a escrita é uma questão de técnica, não uma atitude natural de espontaneidade e inspiração. Pensando dessa forma, construir uma estrutura para suas histórias, seja em contos ou livros, é algo muito comum e prático para dar continuidade ao trabalho como um todo.

Há autores, como o já mencionado Stephen King, que não fazem estruturas para escrever. No entanto, eu não sou o King e provavelmente você também não é. Então, diante esse infortúnio, é importante que trabalhemos com estruturas para poder narrar nossas histórias.

Não existe uma fórmula exata de como uma história deve ser estruturada, mas eu costumo, depois de desenvolver meu enredo e pesquisar bastante sobre o assunto, decidir o número de palavras da minha história e organizar toda essa informação na estrutura básica de começo, meio e fim. Às vezes eu decido a quantidade de palavras antes de fazer minha pesquisa ou desenvolver melhor a história.

A quantidade de palavras é importante, pois quem está começando geralmente pensa em páginas ignorando o fato de que a quantidade de páginas de um livro ou conto é diferente dependendo da mídia ao qual a história está sendo consumida. Porém, se pensar em palavras, o texto terá o mesmo tamanho em qualquer plataforma. Por isso recomendo utilizar a classificação mostrada no início desse artigo como referência.

Toda história possui início meio e fim, até mesmo aquelas que são cronologicamente bagunçadas e não seguem uma linha narrativa continua. Todo enredo sai do ponto A, passa pelo ponto B e se encerra no ponto C. Às vezes o ponto C pode ser o começo da aventura e o B o fim. A estrutura de atos está presente até mesmo em Pulp Fiction (Quentin Tarantino). Em Pulp Fiction essa estrutura é baseada em pontos de ação, há o começo, meio e fim baseado no ritmo narrativo das histórias que estão sendo contadas.

Todavia, vamos nos focar nos contos.

Por ser uma história curta, podendo até ser uma noveleta, é importante lembrar que o espaço disponível para sua história acontecer é diminuto. Então não adianta ter muitos personagens, tramas e subtramas. Um conto tem um foco, podendo variar em uma única sucessão de acontecimentos ou uma sequência de detalhes sobre a vida do protagonista ou algo relacionado a trama abordada.

Se durante o desenvolvimento da sua ideia a história aparentar ser maior do que o predefinido, se a história tiver mais personagens do que o necessário para um conto e eles forem importantes para a trama, é melhor desistir desse conto e passar a encarar sua sinopse como livro ou novela. Fiz isso no meu primeiro livro ao perceber que a história tinha um potencial maior do que ser um único evento em específico.

Dentro da estrutura de começo, meio e fim, o seu conto ainda pode ser dividido em capítulos. A Alma Perdida: Muito Além do Oeste e Rei e o Monstro Gigante são histórias capituladas. A primeira, se não me engano, tem cinco partes e a segunda à narrativa é dividida na visão da menina japonesa e do monstro australiano. Nesse aspecto, se você optou por fazer uma história de 8 mil palavras e decidiu que ela vai acontecer em cinco etapas, dívida 8 mil por cinco e você terá o número de palavras que deverão ser utilizadas por capítulo – nesse caso: 1600 palavras.

Não é necessário ser extremamente matemático e redigir mil e seiscentas palavras por capítulo, o número é apenas uma referência a ser seguida. Um pequeno objetivo a ser alcançado. Às vezes o capítulo se encerra com menos palavras ou excede o número original, isso não é importante, o importante é ter uma referência para guiar o seu enredo, preencher as lacunas e concluir o seu conto.

As minhas outras histórias, Leito Hospitalar: Sozinho no branco vazio, Zumbis em uma nave espacial e O Bem-Aventurado Sr. Político, são textos contínuos sem capítulos. Nesse caso precisei estruturar as três histórias em acontecimentos e fui escrevendo em prosa até finalizar o que eu gostaria de contar.

Muito provavelmente o seu texto final ficará diferente do planejado inicialmente, mas isso também não é um problema. Você vai inventando e a história vai se contando sozinha, muitos personagens vão desenvolver uma personalidade inesperada e, mesmo assim, estará tudo bem. O importante é você contar a história ao qual você gostaria de ler.

Observação: não perca o seu tempo com a jornada do herói ou qualquer estudo complexo de como se escrever um livro, você está fazendo um conto, não um romance. Você não precisa disso agora, mas tem total liberdade para ler sobre o assunto se tiver interesse. Só não fique bitolado em tramas grandiosas quando o objetivo é fazer algo mais simples e menos sofisticado como um conto.

Publicando o seu conto


Sua história está pronta, você já fez tudo que precisava ser feito, qual é o próximo passo?

Abandone sua história!

Deixe seu texto de boas no computador ou no seu caderno, não o leia novamente e permita esquecer das palavras usadas. Por ser um conto, uma semana está de bom tamanho. Procure ficar um tempo sem reler sua história para que durante a releitura você tenha capacidade de notar erros gramaticais e interpretar melhor o seu próprio texto. Quando reler, comece a revisar até ficar bom. Se necessário, espere mais um pouco após as primeiras revisões e refaça esse processo novamente.

Esse é o ponto em que a gramática reassume o seu protagonismo. O próprio word possui um sistema de correção, mas não confie por inteiro nele. Às vezes o software pode se confundir e prejudicar a qualidade do texto. Para uma pessoa incapaz de fazer uma boa revisão detalhada, o que seria o meu caso, recomendo esse processo de leitura e reescrita até encontrar a forma final para o seu texto.

Eu geralmente acabo usando outro corretor ortográfico, o FLIP. O FLIP não é perfeito e tem o mesmo problema de outros softwares de correção, porém, o site acaba servindo para uma segunda visão técnica, identificando palavras erradas que o word não foi capaz de lhe mostrar. É só uma segunda referência. O site também tem dicas e outras funções, mas se você quiser estudar gramática da forma correta, procure livros, exercícios e aplicativos específicos para isso.

Outra estratégia possível ao qual não tenho acesso é enviar o seu texto para um conhecido, alguém ao qual você confia, para avaliar o seu trabalho. Não é uma avaliação teste para a história, mas para perceber erros e esse tipo de coisa. Já entrei em contato com algumas pessoas nesse sentido, nenhuma me respondeu, porém, espero que você seja mais sociável do que esse serzinho miserável que vos escreve. E, evidentemente, você pode contratar um revisor se tiver dinheiro – também não é o meu caso.

Finalizada a revisão, vamos retomar mais um assunto: o título do seu conto.

Como mencionei anteriormente, às vezes o título da sua história pode ser parecido ou idêntico ao de outra pessoa por uma simples questão de coincidência. Isso acontece, está tudo bem. No entanto, acredito que seja melhor evitar a concorrência com nomes similares para melhor identificação por parte do público. Também é importante não ter um nome muito bizarro. Se o título não surgiu na sua cabeça de imediato, procure uma frase ou elemento na sua história ao qual você possa utilizar como título.

Certo, meus companheiros de aventura, agora nós vamos formatar o seu conto. Dependendo do local onde o texto será publicado, você poderá fazer uma formatação diferente, no entanto, o meu foco principal será para contos publicados na Amazon, pois essa é minha especialidade.

Por ser um texto que será publicado via Kindle, o seu arquivo geralmente terá uma formatação própria na plataforma, mas recomendo o preparo geral do texto. A primeira página do seu conto é a contracapa, não havendo necessidade de adicionar uma capa porque o sistema do Kindle estrutura isso por conta própria.

Eu formato o texto dessa forma: coloco tudo em Arial para melhor leitura durante a diagramação. Adiciono o título do conto, o meu nome, a edição do e-book, informações de copyright por pura formalidade e dados relacionados a capa. Vide exemplo:
Formatação da contracapa.
Assim que você terminou sua contracapa, vá na aba “INSERIR”, no espaço “Páginas”, e clique em Quebra de Página. Aparecerá um espaço em branco na primeira página e o cursor do texto estará presente no começo da segunda página.

Na segunda página você adiciona o seu conto. Não é necessário colocar um título, exceto se seu conto tiver capítulos. No caso de uma história capitulada, você deve adicionar uma quebra de página a cada final de capítulo.

Não sei se isso é realmente necessário, mas eu geralmente coloco um pequeno espaço de parágrafo para facilitar a leitura de quem adquirir meus contos. Para fazer isso siga esse passo a passo:

Selecione todo o seu texto, exceto a contracapa e vá em Página Inicial > Parágrafo > Configurações de Parágrafo.

Recuo: Especial “Primeira Linha”; Por 0,5 cm.

Espaçamento: Depois 10 pt; Espaçamento em Linha “Pelo menos”, Em 1,15 pt.

Exemplo:
Quebra de página para história com capítulos.

Configuração de formatação para o arquivo.
Salve no formato DOC/DOCX e siga as instruções da Amazon. Aguarde e seu conto estará disponível para compra conforme informado pelo e-commerce.

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Não falei muito sobre divulgação do conto nesse artigo, principalmente sobre a criação da capa, porque o meu plano era escrever outro artigo, para publicar no Medium, com o objetivo de explanar diretamente sobre esse assunto de um modo que esse segundo texto não combinaria muito com o estilo do Guia Básico. Porém, como é perceptível, não escrevi um segundo texto, pois estou puto com minha vã existência e, no momento, desejo o fim da humanidade o mais rápido possível. Beijos e abraços, espero que esse guia tenha sido útil (:

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